Ouço, até à exaustão, repetidamente, repetidamente, «Wie der Hirsch schreit», o salmo 42 da Bíblia, musicado por Felix Mendelssohn Bartholdy. «Como o veado anseia pelas torrentes das águas, assim a minha alma suspira por vós, ó Deus». A primeira frase é assim. Nada de excessivamente complicado. Mendelssohn começou a fazer jorrar música a partir daqui, até ao final do salmo. Não sei por que razão, regressou-me à memória esta música absolutamente sublime, de tão simples e, ao mesmo tempo, tão rica que é. Na verdade, talvez este salmo tenha surgido para relembrar que é importante olhar para os tempos que aí vêm com os olhos certos. Esta procura constante, que a música também dá a entender, pode ser, pelo menos parcialmente, satifeita. Se estivermos com os outros, com os nossos, sem tempo limite. É aí, nessas coisas que parecem pequenas, em que somos mais humanos, mais nós, mais sentimento, que encontramos essa entidade abstracta a que chamamos Deus. Não é ele que vem resolver os nossos problemas, ou fazer qualquer magia para nos reorientar. Mas ele está, muitas vezes, onde menos esperamos. Nas coisas mais simples, mais pequenas, menos vistas. Como o veado, que procura algo tão simples como uma água corrente. Se a música nos puder conduzir até aí, tanto melhor.
Felix Mendelssohn Bartholdy – Der 42. Psalm
«Wie der Hirsch schreit» (Psalm 42) – Felix Mendelssohn Bartholdy