Hoje é um daqueles dias aparentemente estranhos. Um daqueles dias em que há qualquer coisa que paira, e parece que não sabemos bem o que é. Mas, de facto, sabemos. Chama-se saudade. A diferença essencial entre o estar e o não estar mais. E regressamos a esse sentimento sempre que encontramos um lugar vazio ao lado, ou em frente. Quando realizamos que já não podemos ir ao encontro de quem esperávamos, porque já não encontraremos quem procuramos à nossa espera. Quando sentimos a ausência do aperto de mão firme, do assobio, da conversa sobre as notícias do dia ou da semana, da partilha do jornal. E é quando recorremos ao baú das memórias, que descobrimos que, mais do que tudo, fica o testemunho e o exemplo, para que o sigamos e honremos. Não há lágrimas. Não há aquela dor que rasga. Há só essa diferença. Entre estar e não estar. Sabendo, sentindo, experimentando que, de facto, estará, estaremos sempre que queiramos. Em contínuo, fica a música de Ryuichi Sakamoto, já com partitura vista, para estudar, mal seja possível. Como forma de contacto com essa ausência. De onde sai tanta coisa boa, que não cabe em nós.
Ryuichi Sakamoto – “Parolibe”
“No ano em que o meu avô nasceu foi inuaurado o canal do Panamá, começou a I Guerra Mundial e não houve Prémio Nobel da Paz, e o quanto o mundo mudou 97 anos depois. Ele viu tudo. Sentiu tudo. Viveu tudo. Pode contar, de forma lúcida e pormenorizada, tudo o que nós só sabemos pelos livros de história e pela Internet. Ele viveu, ainda que à distância, os «loucos anos 20». A ascensão e queda de Hitler, com tudo o que isso implicou. Conheceu de perto (e na própria pele) a musculatura da ditadura salazarista. A II Guerra Mundial, e as histórias dos «mineráveis», em Arouca. O surgimento do cinema. O «sonho americano». O 25 de Abril. A descolonização. O meu nascimento. O início da globalização. O terceiro milénio. Tudo isto, sintetizado numa vida. Em 97 anos”.
(A Minha Agenda, 31/07/2011. O avô Miranda faria [faz] hoje 99 anos)
boa pessoa esse teu avo gostava muito dele