Uma lente, para ver melhor Arouca
Arouca tem sido repetidamente motivo de notícia, nos últimos tempos. Primeiro, a chegada à I Liga de futebol. Depois, a notícia publicada pelo JN, que dá conta da vontade da autarquia de “emprestar dinheiro” ao Governo para conclusão da Via Estruturante. E poderíamos continuar por aí além, com artigos de opinião e outros textos, comentários, etc. De repente, estamos nas páginas (e, em alguns casos, nas primeiras páginas) de jornais com tiragens nacionais, com dinâmica na internet, com capacidade de criar massa crítica. Se é bom? Talvez não.
A imparcialidade, a verdade, a isenção são mitos, no mundo jornalístico. Por muito que queiramos acreditar no contrário, são três coisas que, de facto, não existem. Um jornalista, quando chega ao local da notícia, vai escolher um ângulo de visão, vai seleccionar a informação que acha pertinente e vai ouvir quem entende que deve ouvir. Por muito sério que seja, e por muito séria que seja a sua forma de trabalhar, ele vai sempre apresentar-nos um trabalho final que é seu, visto por si, recortado da realidade por si, e em que nós, à partida, confiamos. Mas, que não é a realidade, muito menos a verdade. É, sempre, um fragmento, um recorte, uma visão da realidade, com a percentagem de verdade possível.
Por tudo isto, é preciso uma lente que ajude alguns jornalistas “nacionais” a verem bem Arouca. A verem Arouca como ela é, e não como ela lhes parece ou querem que lhes pareça. Aliás, essas sucessivas visões desfocadas só provam que a imparcialidade, a verdade e a isenção não existem, por muito que sejam arduamente procuradas. É preciso uma lente que não amplie, mas também não diminua. Que mostre o que somos, quem somos, de forma séria. Que explique que, apesar das dificuldades, lutando contra elas, fazendo o esforço extra de transpormos as montanhas (mágicas) que nos rodeiam, chegamos lá. A notícia é essa. Para o peditório do “postal ilustrado” do “Portugal profundo”, já ninguém dá.