29 de Janeiro de 2013 – Segunda crónica em «Discurso Directo»: Uma volta de 360 graus

logo-ddUma volta de 360 graus

Neste momento, uso o verso de um talão do multibanco para fazer uma espécie de conta à vida, algures numa grande superfície, aí, onde as vidas dão voltas, por fora das montras, e onde vão sendo feitas de desejos e impossibilidades. Mas o que nos traz hoje aqui são outros pensamentos, não que sejam relevantes ou valham a pena partilhar. Se outros o fazem, porque não eu? Ao que interessa, portanto.

Amyr Klink é um nome que pouco dirá a muitos, mas que corporiza uma interessante visão do que pode ser dar uma volta de 360 graus na vida. Amyr é um navegador solitário, um dos poucos que, sozinho, a bordo do seu “Paratii”, circunavegou a Terra. Tudo bem, Fernão de Magalhães já o tinha feito, James Cook, com muito menos apetrecho técnico, igualmente. Mas este navegador brasileiro (que, de resto, sublinha no seu livro “Mar sem fim” que esse mesmo “mar sem fim é português”, como Pessoa havia escrito) fê-lo circunavegando a Antárctida, enfrentando icebergues, ventos e correntes marítimas cujas descrições nos deixam apenas imaginar a intensidade. Mas, ao mesmo tempo, Amyr pôde ver paisagens que poucos terão visto e belíssimos animais marinhos que, felizmente, o homem deixou de tentar dizimar.

De facto, ao contrário do dito futebolístico, uma volta de 360 graus não é apenas voltar ao mesmo. Ou antes, é, na verdade, voltar ao mesmo, mas depois de se ter feito um percurso pelo ângulo mais largo possível, com a aprendizagem ou conhecimento que isso pode proporcionar, para nova viagem.

Ora, os políticos com H grande, os poucos, muito poucos, que conhecemos, devem sentir isso mesmo, em cada ciclo eleitoral. Se virmos bem, foi no início de uma segunda viagem de 360 graus que Lincoln morreu quase ao mesmo tempo que acabava com uma guerra civil e abolia a escravatura, nos Estados Unidos.

Em Portugal, todavia, somos mais originais. Os políticos portugueses, desta vez políticos com p pequeno, preferem fazer a volta de 360 graus tentando meter a cabeça no umbigo (coisa que, a par de lamber o cotovelo, sabemos que não conseguimos fazer a nós mesmos). Só assim se explica que, um dia, nos apareça um candidato a candidato a pessoa que nos governa, já com farda mas sem manual de boas práticas, e que ontem não tinha pressa, mas hoje os contadores de espingardas obrigam a ter. Só assim se explica o facto de termos um Governo absolutamente auto-fágico, cuja fome é maior do que o próprio país.

Arouca também se prepara para uma volta de 360 graus. Aquilo que esperamos é que, tal como Amyr Klink estabeleceu, tenhamos um mesmo ponto de partida e de chegada. Todavia, no regresso a casa, depois de atingido o ponto de partida, e porque as correntes e os ventos não sopram no mesmo sentido, a rota seja ligeiramente desviada. Para chegarmos sãos e salvos.

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