O jornal “Expresso” publicou, recentemente, um texto sobre o trabalho dos maestros, e a forma como vários profissionais da direcção de orquestra encaram o seu trabalho. O que nos prende neste texto é que ele começa, sempre que há um recomeço, pelo princípio, que é onde tudo deve começar. Na suposta “irascibilidade” ou “superioridade” do maestro. Coisa que, hoje em dia, talvez esteja mais diluída. Autoridade, exigência, capacidade de liderança, ideias próprias e, sobretudo, ser-se músico, são algumas das coisas que também aparecem por lá. Retenho, contudo, as palavras de um dos pedagogos que se tem dedicado à arte de ensinar a dirigir, e que tem formado alguns dos grandes maestros portugueses que hoje conhecemos: Jean-Marc Burfin. Primeiro, quando diz que “0 maestro em casa tem que ser capaz de analisar a partitura e de ouvi-la interiormente, sem apoio de uma gravação. Ensaia com ele próprio e chega ao ensaio da orquestra com uma noção exata do que quer ouvir. A música tem que vir de dentro”, e, depois, quando alerta para o facto de ser complicado, para quem quer fazer carreira, encontrar lugar para dirigir. Se o maestro é o “descodificador” do compositor e o instrumento é a orquestra, não havendo músicos disponíveis, dificilmente haverá maestros.