Cantar os Reis é algo que, talvez para a maioria, não significa muito. Em Arouca, era algo “normal” acontecer, pelas ruas da vila, nas noites de Janeiro de cada ano. Eram muitos os grupos que, informalmente, iam mantendo viva a tradição de levar a cada casa os cantos tradicionais, guardados na memória colectiva, que anunciavam a chegada do Menino esperado, ao mesmo tempo que se pedia que o anfitrião “botasse” a mão à salgadeira ou ao fumeiro, fosse à adega, e pusesse a mesa, mesmo que já estivesse no aconchego das mantas. Lembro-me de cantar os Reis em Rossas, com talvez pouco mais do que seis ou sete anos. Lembro-me de o fazer pelas ruas de Arouca, pouco mais tarde. Hoje, passou algum tempo. As vidas são diferentes. As casas mais estanques. Talvez as vidas também. Mas nós insistimos. Continuamos. Para que essa memória colectiva, cada vez mais desprezada, não corra o risco de ser esquecida. Ontem, começámos. Andaremos por aí.