Nunca vi a Ilha de Moçambique, a não ser em sonhos. Num imgainário distante, a que se vai por instinto e não por memórias concretas. Hoje, graças a uma prenda oferecida, original ou nem por isso, o meu avô fez-nos uma visita guiada, apontando, aqui e ali, no livro, revisitando velhos amigos, poetas, fotógrafos, jornalistas, historiadores. Regressámos ao passado, pela mão. Fiquei contente por ter sido eu a encontrar o mapa. Significa que acertei no rumo. Foi bom. Talvez tenha, agora, verdadeiramente, nascido o Menino Jesus. Talvez estivesse, este tempo todo, escondido na bruma da Ilha de Moçambique. Curioso.
«A Ilha de Moçambique, ao longo dos séculos foi acumulando sensibilidades culturais distintas e até antagónicas, que têm convivido num estranho mas intrínseco abraço. Os povos que ali se foram abrigando, desde os arábicos, asiáticos, europeus (por mão dos Portugueses), até diferentes etnias africanas, ali partilharam a terra dos Enaharras, do Grupo Macua do Litoral e, juntos, construíram uma sociedade única, que se revê nas suas diferenças com profundo respeito. (…) A Ilha é um poema de impulsos e espontaneidades que não necessita de rimas nem de regras para a escrever, pois ela faz-se perceber no seu misticismo e na sua lascividade histórica.»
(Paulo Pires-Teixeira in Ilha de Moçambique na Alma dos Poetas: poesia, história e fotografia)