22 de Novembro de 2012 – O síndrome da folha em branco

Cada vez menos sinto medo da folha em branco. Seja por não encontrar melhores palavras do que outros, seja por não alinhar os melhores sons, que valham a pena escrever. Como ter esse receio, quando tanta gente tem tanta coisa mais importante, mais bela, mais decisiva a dizer? Como querer contrariar esse silêncio, quando tanta gente tem maior “inspiração”, melodias ou improvisos para partilhar? O carteiro de Pablo Neruda cansou-se de ser apenas um homem, e procurou ser poeta, como se a poesia de entregar cartas e a simplicidade de um amor impossível não lhe bastassem. Trocou a vida por um sonho. É lícito sonhar assim. Quando se tem, de facto, algo a dizer, algo a acrescentar, algo que valha a pena deixar claro. Mas talvez possa haver também poesia suficiente na folha em branco. No silêncio. No nada. Muito melhor do que muito do que se exterioriza.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *