Fiquei a saber, com agrado, que o meu mestre e amigo Mário Cláudio também tem uma agenda. Trata-se de um blog, no espaço virtual do jornal «Expresso». Muito bem escrito, como é seu timbre. Salta à vista um texto sobre a idade e a leitura. Sobre a descoberta e redescoberta das histórias e das personagens que se escondem atrás das páginas de um livro, à espera de nos serem reveladas. Haja o tempo que houver, venham as revoluções tecnológicas que vierem, não haverá nada que substitua o objecto livro. Mesmo que também saiba muito bem ler estas agendas.
«A persistência das minhas leituras, atravessando sucessivas estações etárias, oferecer-me-ia uma perspectiva que julgo valiosa, quer do conteúdo das centenas e centenas de volumes que fui desbaratando, quer também, e sobretudo, da simples natureza do acto de ler. E verifico que, se na infância percorria laboriosamente com o indicador as linhas dos contos de Andersen, ou das histórias tradicionais portuguesas, na adolescência derrubava espécie bibliográfica atrás de espécie bibliográfica com velocidade que se me afigura hoje quase miraculosa. E a idade adulta, honrada pelo convívio com Tolstoi e Dostoiewsky, Proust e Musil, Joyce e Virginia Woolf, espraiar-se-me-ia por dilatados momentos de detença num capítulo, num parágrafo, ou numa frase, em busca do efeito, da estrutura, ou da dinâmica, que pudesse aproveitar ao escritor que ia crescendo em mim».
(Mário Cláudio – da Agenda)