O significado da palavra “caridade” é, cada vez mais, fruto dos tempos que vivemos, desvirtuado. Etimologicamente, caridade aproxima-se de amor. É mais isso do que propriamente esmola. Bem sabemos o quanto os políticos estão desacreditados, nos dias que correm, mas Cavaco Silva, hoje, não falou nada mal quando disse que tínhamos de redescobrir o humanismo e a solidariedade. Se em outras alturas era frequente vermos gente sair do país para praticar o voluntariado em zonas carenciadas do mundo, agora o desafio é maior. É o de eliminarmos a barreira da proximidade, que muitas vezes nos impede de fazermos o mesmo por quem vive ao nosso lado, e ser-se voluntário no próprio meio onde se vive. À distância, é mais fácil. Não se é conhecido nem se conhece, não se tem resistências contra ninguém, não temos um bom-nome, uma reputação conhecida. Mas ao lado da porta, mais difícil se torna, sobretudo quando se sabe que ninguém é profeta na sua própria terra. Pois bem, cada vez mais é esse o desafio que nos espera. Com a dificuldade acrescida de não se esperar nada em troca.
“Num mundo marcado por tantas carências, num país que atravessa tempos tão adversos, os valores do humanismo e da solidariedade têm de ser redescobertos. Cada qual tem um imperativo para com os outros, sobretudo quando pode, de facto, fazer a diferença, num mundo em que convivemos com situações a que, como seres humanos, não podemos ficar indiferentes”.
(Aníbal Cavaco Silva, Presidente da República, durante a cerimónia da entrega do Prémio Champalimaud 2012)