Às vezes, as palavras surgem-me na cabeça em torrentes, ávidas de serem pronunciadas, letra a letra, sílaba a sílaba, antes de serem alinhadas, umas após as outras, como se fossem música, a dizerem o que eu quero, mas, sobretudo, o que elas querem dizer. Outras vezes, elas fogem. Como que não querendo ser incomodadas. Leva-as o vento. Ou elas levam o vento. Ou. E desaparecem. Esvaziam-nos. Umas vezes, não temos mão nas palavras, quando elas querem, rapidamente, sair. Fixar-se. Dizerem coisas. Dizerem-nos. Outras, não as temos, pura e simplesmente. E não há nada para ser dito. «A folha em branco», ainda que virtual, é um medo. Tal como o é tentar-se preencher esse vazio com várias combinações de letras, mas nenhuma servir para dizer nada. Por excesso, ou por defeito, nunca tenho mão nas palavras. Respeito-as. Para fugir, sempre que possível, da banalidade das combinações e da musicalidade possíveis. E continuar, todos os dias, a lutar contra a «folha em branco». Mesmo que seja para não dizer nada.
Dizia Vergílio Ferreira que, «escrever é ter a companhia do outro de nós que escreve». Não sejamos egoístas e demos, por vezes, tempo e espaço a esse outro para que possa estar só, a vaguear por aí, simplesmente.