Um território faz-se também das suas memórias. Das memórias que preserva e projecta no futuro, através das histórias contadas, recolhidas junto de quem as viveu na carne e no espírito, e que é, hoje, parte da história. Uma história que nos apresenta alemães e ingleses em conflito bélico na Europa, quando, entre Rio de Frades e Regoufe conviviam pacificamente, partilhando, inclusive, uma mesma estrada. Unia-os, nessa altura, um objectivo comum: o volfrâmio, o «ouro negro», que, para uns, significava o reforço do poder militar, para outros, uma forma de enriquecer. Rio de Frades e Regoufe são testemunhos vivos desse imaginário, que ficou latente em outros locais do concelho, como, por exemplo, Alvarenga. Porque a Europa estava em guerra, a segunda, não muitas décadas depois de um conflito de dimensões mundiais, e apesar do Portugal de Salazar manifestar neutralidade (que permitiu esta presença dupla em terras de Arouca), os géneros alimentares eram escassos e racionados, e até o milho, os fertilizantes e as sementes eram contados. A única resposta a estas dificuldades parecia ser o «ouro negro», que fazia chegar a Arouca um largo número de pessoas, à procura de riqueza fácil, não importando se era preciso contrabandear, pilhar ou o que fosse. Mas houve também quem se entregasse ao trabalho «legal», esforçado, árduo, penoso. E houve, sobretudo, quem visse e vivesse. Quem tenha esses tempos ainda à flor da pele. São alguns desses testemunhos que aqui se reúnem, num contributo para a preservação desse passado que é uma marca indelével da nossa identidade, que é nossa função dar a conhecer.
A exposição «Histórias contadas, memórias preservadas: o volfrâmio» pode ser visitada no Museu Municipal de Arouca, até 25 de Março, de terça-feira a domingo, das 09:00 às 12:30 e das 14:00 às 17:30.