19 de Janeiro de 2012 – Fazer um golpe de estado a si próprio

Ler as declarações de Otelo Saraiva de Carvalho, e relembrar os ditos de outros Otelos Saraivas de Caravalhos que por aí grassam, não pode ser senão hilariante. Colecciona-se um vocabulário, que não precisa de ser muito abrangente, junta-se os argumentos do costume, com as palavras certas, e faz-se um brilharete de reflexão política. Se a cada frase se intercalar «o povo», com «os interesses do capital», a «subordinação a novas formas de ditadura», e termos utilizados de forma avulsa, como «a liberdade», «os militares como último bastião», e as habituais muletas «pá» e «portanto», e temos um corpo de conceitos perfeito. Ou isto, ou considerandos semióticos, dá no mesmo. Fundamenta-se a opinião com algumas destas «peças», habituais neste tipo de «puzzles», e eis-nos verdadeiros sábios. Mesmo que falte tudo o que fundamente e estruture, ética e moralmente, estes «people instigators», o que conta é o «soudbyte». Portugal é um país de leis e legisladores, onde facilmente nos tornamos juízes. Todos sabemos disso. Mas talvez se devesse acrescentar uma outra lei. A de que quem instigue a hipotéticos golpes de Estado, tenha de comprovar que, previamente, fez um golpe de estado a si próprio. Porque de gente desta, «autofágica», não devemos precisar.

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