8 de Janeiro de 2012 – «?»

Ele não sabia o que sentia. Não cabia no corpo. Havia uma espécie de dor. Fina. Aguda. Inexplicável. Uma dor com a forma de um ponto de interrogação. Ele não sabia porquê. Talvez pelo imenso silêncio dentro de si. Vazio. Sem nada. O corpo como espaço de eco, apenas. Um céu sem estrelas. Sem força. Absorto. Inerte. Todo ele era dúvida. Dúvida sobre tudo, inclusive sobre si próprio. Foi como se o corpo fechasse todas a persianas, e se fechasse sobre si próprio. E ele olhava para dentro de si mesmo, e não conseguia ir além da imensa escuridão, vinda não se sabe de onde. Ele não sabia se a boca era amarga ou doce. Ele descobriu que tinha medo. Talvez medo de si mesmo. Descobriu que não sabia para onde ir. Ele já não via os sons sucederem-se, como uma torrente límpida de água, com rumo certo. Ele não encontrava o mapa que o orientava. Ele não encontrava o quadro colorido a cores vivas. Arrombou a porta do quarto, que não conseguia abrir de outro modo. Procurou ocupar o mínimo espaço possível, para dormir. E, naquele escuro, naquela noite inexplicável, teve vontade de chorar.

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Joni Mitchell | «A case of you»

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