Não é preciso ser-se «expert» em política nem em «politiquês», nem tão pouco dominar as artes da oratória, para se perceber que os argumentos que João Ribeiro, porta-voz do Partido Socialista, apresentou hoje funcionaram exactamente ao contrário do que seria previsto. O socialista só consegue ter um argumento minimamente válido em quatro tentativas. E, ainda assim, o argumento final é bastante fraco. Isto, para um porta-voz, é manifestamente mau. Ribeiro começou mal, porque afirmou imediatamente que este orçamento não é do PS. É um facto. Não é do PS, porque o PS não ganhou as eleições. E o PS não ganhou as eleições, porque é o principal responsável por uma década negra de despesismo e ficção, em actos políticos estudados e construídos à medida dos «media», escondendo um despesismo descontrolado. Também não é do PS, porque, até este momento, não houve nenhuma proposta sólida de que os socialistas se possam orgulhar, para melhorar o documento. Diz ainda o PS, pelo verbo de João Ribeiro, que estão a ser violadas promessas eleitorais. Este conceito de violação de promessas eleitorais é salutar, precisamente porque mostra a verdade aos portugueses. De que nos valem as promessas eleitorais se os bolsos estão vazios? Preferíamos continuar a acreditar que tudo está bem, quando, de facto, estamos na penúria? A realidade está bem em frente a nós, e diz-nos claramente que esqueçamos as promessas eleitorais. Agora, é preciso salvar Portugal. Este orçamento vai além do que nos foi imposto pela «troika», diz ainda o rosto das palavras do PS. E ainda bem que assim é. Porque, se assim for, mais rapidamente poderemos entrar na rota do cumprimento, e pagaremos a quem devemos, a quem injectou dinheiro na nossa economia, para que não estivéssemos com as contas a zero dentro de meses, evitando, assim, a paragem e a falência da nossa economia. Entrando nessa rota de cumprimento, mais facilmente poderemos renegociar as condições de pagamento dessas dívidas, e talvez desafogar um pouco os nossos encargos com tudo isto. Termina Ribeiro, com uma última tentativa de argumento digno, mas, ainda assim, falha. Este orçamento empurra o país para uma recessão crónica. Mais uma vez o argumento é falacioso. Não é este orçamento que empurra o país para uma recessão crónica, ele é apenas a consequência da má gestão socialista, que, essa sim, empurrou o país para a situação de ter de aprovar, desesperadamente, um orçamento destes. Se João Ribeiro continuar a argumentar assim, «vai vir» muita gente dizer-lhe que este projecto não resulta, mesmo que o porta-voz esteja «concentradíssimo».
«Este orçamento não é do PS (…), viola promessas eleitorais (…), vai muito além do que a ‘troika’ impõe (…) e empurra o país para uma recessão crónica».
(João Ribeiro, porta-voz do PS, em declarações aos jornalistas)