Há algum tempo atrás, Dominique Strauss-Kahn, talvez inebriado e com a visão desfocada, confundiu os papéis de esquerdista e de director geral do FMI, e confessou que trabalhava para a esquerda mundial. Ficámos, na altura, sem saber se a sua preocupação efectiva e quotidiana era o equilíbrio e a «sanidade mental» dos mercados, ou a «sua» esquerda. Nesse dia, pairou a dúvida se podíamos confiar nessa esquerda (já que em Portugal, pelo menos na esquerda menos radical, não podemos confiar, de facto) e, mais, se poderíamos confiar no FMI, que Strauss-Kahn dirigia. Agora, verificamos que não podemos é confiar no próprio Strauss-Kahn. Acusado de vários crimes de natureza sexual, corre o risco de cumprir uma pena perpétua, e de ainda ficar a dever anos à prisão norte-americana. De uma única estocada, deixa de ser director geral do FMI. Deixa de ser símbolo da esquerda. Deixa de ser «presidenciável». Deixa de ser credível. Uma sucessão de acontecimentos nada feliz.