24 de Março de 2011 – Não estou pensando em nada

Os dias correm a uma velocidade desnorteante, e há sempre pequenas coisas por fazer, e muitas pequenas coisas tornam-se grandes coisas. A política continua demasiada, e o dinheiro demasiado pouco. A incerteza grande, e o ânimo pequeno. Não há tempo para pensar, ou para reflectir, ou sequer para fugir, porque os destinos talvez não nos queiram. O dia termina, e eu fico como Álvaro de Campos, a pensar em nada. Quase como o eremita, que encontra tudo o que procura em estar consigo mesmo. Não estou mesmo pensando em nada. Em nada.

Não estou pensando em nada

Não estou pensando em nada
E essa coisa central, que é coisa nenhuma,
É-me agradável como o ar da noite,
Fresco em contraste com o Verão quente do dia.

Não estou pensando em nada, e que bom!

Pensar em nada
É ter a alma própria e inteira.
Pensar em nada
É viver intimamente
O fluxo e o refluxo da vida…
Não estou pensando em nada.
É como se me tivesse encostado mal.
Uma dor nas costas, ou num lado das costas.
Há um amargo de boca na minha alma:
É que, no fim de contas,
Não estou pensando em nada,
Mas realmente em nada,
Em nada…

(Álvaro de Campos)

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