Nas horas vagas, é isto que ando a ler. Uma biografia extensiva de Sá Carneiro, escrita (e muito bem) por Miguel Pinheiro, director da revista «Sábado». Aqui se fica a saber mais sobre um homem que, se a morte não tivesse levado prematuramente, teria ajudado a fazer um Portugal diferente. Muitas vezes (injustamente) acusado de reaccionário, fascista ou anti-revolucionário, apesar do seu temperamento de ímpetos, tinha uma visão estruturada para a transição de Portugal para a democracia. O tempo deu-lhe razão. Deu-lhe razão quanto à descolonização, por exemplo. Deu-lhe razão quanto à impraticabilidade de certas opções que, no calor da Revolução, se tomaram. Mas este livro não é apenas sobre Sá Carneiro. É também sobre esses tempos e sobre os protagonistas desses tempos. Um Mário Soares «do contra», demasiado ausente nas alturas importantes e manifestando, subliminarmente, uma certa «sede urgente de poder», um Álvaro Cunhal experiente mas envolvido na habitual aura de «mistério» dos comunistas, um Spínola a quem um país caiu no colo, literalmente. É preciso, é urgente sabermos mais sobre esses tempos. Os que, sorrateiramente, nos começaram a conduzir ao país desorientado que somos hoje.