Sá Carneiro morreu, fez ontem 30 anos. Aquando da sua morte, eu não teria ainda completado três meses de vida, mas acabei, como todo o país, de resto, por crescer e viver com o mito sempre presente. Francisco Sá Carneiro viveu sempre depressa de mais, inconstante demais, sempre no futuro e não no agora, tanto em termos políticos como pessoais. A democracia era ainda e apenas um princípio de qualquer coisa que ninguém sabia muito bem o quê. Sem ser orador brilhante, era um pensador e um estratega atento e de rara visão. Galvanizava multidões. Morreu como viveu, depressa de mais e com impacto. Ninguém lhe ficou indiferente. Uns, criaram em torno de si uma imagem de um novo D. Sebastião. Outros, fizeram estourar foguetes poucos minutos depois da sua morte. Atentado ou acidente, persiste a dúvida. Nove Comissões Parlamentares de Inquérito e um sistema de justiça que viu aqui a oportunidade de se credibilizar a qualquer custo não conseguiram chegar a uma conclusão consensual. Sá Carneiro fará, ontem e sempre, como em vida, ressuscitar as nossas dúvidas, acerca do país que poderíamos ser se não tivesse morrido. Sobre o país que somos e podemos ser. Ontem, e sempre.