Vem no jornal «Diário As Beiras» de hoje um texto que reflecte uma certa desorientação quanto ao modo como os agentes públicos podem (e devem) impulsionar a cultura em Portugal. Falando com os jornalistas, a Ministra da Cultura, em visita a Coimbra, referia que as políticas culturais devem estar alicerçadas no poder local. Ora, estas declarações, vistas desta forma leve, podem configurar uma desresponsabilização do Ministério, e dos organismos que tutela, em relação à promoção e dinamização das actividades culturais, «atirando» essa responsabilidade para as autarquias. Este é o típico funcionamento do funcionalismo público. Vamos «atirando» a responsabilidade para baixo, na cadeia hierárquica, até acabar por se responsabilizar o humilde funcionário, que se enganou no local de abrir o buraco para colocação do palco. E as autarquias, estão à altura deste desafio? E a administração central, que apoios lhes dá? E o associativismo, como fica no meio disto? E o que dizer da distribuição de subsídios pelo Ministério da Cultura, quase sempre às mesmas entidades, deixando sempre de fora os «mais pequenos», porque é preciso privilegiar os «criativos»? O texto de Pacheco Pereira sobre o «culturalês», da revista «Sábado» da semana passada, ajuda a pensar sobre isto.