Hoje, o «Jornal de Notícias» traz em destaque um panorama risonho do ensino da música em Portugal. Não admira, quando as escolas visitadas são talvez duas das melhores escolas do país: as academias de música de Espinho e Vilar do Paraíso, curiosamente, ambas separadas por poucos quilómetros. Quando o universo é «curto», corremos o risco de estar a ver a «paisagem» de uma forma deturpada. As academias (e mesmo os conservatórios públicos) debatiam-se, até há bem pouco tempo, com sérias dificuldades em conseguirem manter as suas instalações minimamente condignas para o ensino da música. Lembro-me bem dos exemplos de São João da Madeira (que, agora, tem um projecto de remodelação), Espinho (a mesma que agora é de excelência, mas que, até há pouco tempo funcionava numa casa antiga) e até mesmo Vilar do Paraíso (que embora oferecendo boas condições, funcionava também num edifício já antigo e junto a uma estrada onde o estacionamento era quase impossível). São estes, agora, os exemplos da excelência. Porque sempre primaram por um ensino rigoroso, mas cativante. Sério, sem deixar de ser lúdico. Porque primaram pela escolha dos melhores professores. Em suma, porque são instituições privadas que prestam um serviço público, sem que o Estado, muitas vezes, reconheça esse trabalho. Atirar com exemplos de excelência é fácil, se esquecermos estes «pequenos pormenores». A Academia de Música de Arouca continua a subsistir com dificuldades, por exemplo. O Conservatório de Música do Porto só graças à integração na Escola Secundária Rodrigues de Freitas pôde assegurar melhores condições de ensino. E poderíamos citar muitos outros exemplos. Dizer-se bem do ensino da música em escolas modelo é mais simples. Demasiado simples, quando se é do «interior», do dito «Portugal profundo», de onde a paisagem que se vê é ligeiramente diferente.
Não esquecer também a outra parte da notícia: São cada vez mais, os jovens que estudam música. Sim, são mais. Mas será que estudam mesmo, ou é só mais um número bonito para se mostrar? Tal como o Maestro Vitorino de Almeida, acho que a música é uma vocação e não uma imposição. Não creio que a quantidade, neste caso, signifique qualidade.