Embora muitos, por vezes, tentem «esconder» este facto, a Feira das Colheitas foi idealizada e posta em prática, há precisamente 65 anos, por um respeitado homem de Rossas chamado António de Almeida Brandão. Concorde-se ou não, o que parece perfeitamente evidente é que as obras e as ideias ditas «estruturantes» para o concelho remontam a esses anos. As vias que ligam os extremos do nosso concelho são dessa época. Os edifícios escolares, que só agora parece terem despertado a atenção dos políticos, são dessa época. E também a Feira das Colheitas é dessa época. Os tempos foram mudando, foi-se «retocando a maquilhagem» às coisas, mas a origem está ali. O texto que aqui deixo, já deve ter sido lido algures por aí. Foi um ténue contributo para se perceber um pouco melhor a origem da Feira das Colheitas. As fotografias são do arquivo familiar.
O início: a Segunda Guerra, os concursos agrícolas, as exposições, o folclore
«No seu género, a Feira das Colheitas deve ser a primeira que surgiu no país, anterior à Feira do Ribatejo, hoje Feira Nacional da Agricultura, cujo aparecimento se verificou em 1953, ou seja 9 anos mais tarde».
Brandão, António Almeida, Memórias de um Arouquense, Lisboa, ISER, Universidade Nova de Lisboa, 1999, p. 117.
Ano de 1944. A Segunda Guerra Mundial começava a fazer-se sentir. Portugal, apesar de uma posição neutral, não passou incólume. O alimento essencial do homem do campo, o pão, era escasso, porque também os cereais eram escassos. Eram tempos de privação, fome, preços elevadíssimos, sobretudo no chamado Mercado Negro.
Em Arouca, procura-se contornar a crise, procurando, ao mesmo tempo, implementar medidas de fomento no que diz respeito à produção de cereais. É nesse contexto que surge a Feira das Colheitas, por iniciativa do Grémio da Lavoura, ao tempo presidido por António de Almeida Brandão. Com o objectivo imediato de aumentar a produção, e com o apoio da Câmara Municipal de Arouca, a Feira das Colheitas teve o seu arranque com quatro concursos: Melhor Seara, Melhor Fruta, Melhor Adega e Melhor Linho. Foi também integrado na Feira o já criado Concurso da Raça Bovina Arouquesa, passando estes cinco concursos a ser o fundamento do certame.
Foi o concurso para Melhor Seara que despertou maior interesse, atingindo plenamente o fim pretendido: não só o aumento da produção, como também um intercâmbio de experiências entre os concorrentes, visitas às searas premiadas, debates entre produtores para o melhoramento de técnicas. Um concelho deficitário na produção de cereais passou, em alguns anos, a exportador.
Simultaneamente, foi promovida uma Exposição Agrícola e uma Exposição de Artesanato, iniciativas que despertaram grande interesse, e que, desde então, têm evoluído, adaptando-se aos tempos que correm.
Fruto da situação social, também as antigas tradições populares, características dos lugares e das aldeias, se foram perdendo. Aproveitando esta nova dinâmica, urgia recuperar-se as desfolhadas, as espadeladas e as ceifas, com os seus cantos e gestos particulares. Era imperioso, portanto, ressuscitar-se o folclore, e, como tal, incluiu-se este aspecto no programa da Feira das Colheitas. Com base no conhecimento dos usos e costumes que os mais velhos das suas aldeias e lugares possuíam, cinco grupos, de outras tantas freguesias, deram corpo à primeira manifestação desta ressurreição do folclore local: Santa Eulália, Chave, Rossas, Moldes e Canelas foram os primeiros grupos que se organizaram para a Feira das Colheitas. A partir de então, novos grupos foram surgindo um pouco por todo o concelho, ao ponto de, hoje, haver um dia inteiro dedicado ao folclore arouquense, oferecendo o palco aos ranchos locais. Os costumes, as danças, os cantares e os trajes têm-se preservado, em boa parte graças à Feira.
Nas primeiras edições, foi também incluída uma vertente mais religiosa, sobretudo com a Bênção dos Campos e do Gado e com o famoso Cortejo dos Açafates, entretanto recuperado, nas últimas edições da Feira. Aliás, tem sido esta a dinâmica deste certame: o constante ajustamento às novas realidades que os tempos impõem, quer das exposições quer da variedade e/ou condicionamento do programa. Aliada à beleza paisagística e à riqueza histórica do concelho, a Feira das Colheitas é, sem dúvida, um cartão de visita para Arouca.
Meu caro… eu de cinema nada percebo!
De agricultura muito menos mas reconheço o meu passado de Calceteiro Marítimo…e se soubesse o que sei hoje dedicava-me a explorar a flora marítima (eu disse Flora? é isso mesmo que eu queria dizer! não, pf não …aqueloutra, não me denuncies)
Poderíamos, eventualmente e porque não, à sombra do convento (conventualmente)… tentar registar a Memória Colectiva em FILME.
Temos argumento, script, chamem-lhe o que quiserem, para mais uma realização do Manoel Doliveira ou então de Moi Même que já não pego numa câmara de filmar há n time ago ( e com uma cunhazita a música seria do meu mano).
Há muito muito tempo …dei voz a coisas relacionadas com o ciclo do pão,do linho…
Á semelhança de outros Coca bichinhos, obrigatoriamente, teremos que conservar os acervos que fazem parte da nossa identidade.
E daqui tiro o chapéu, em sinal de respeito e consideração, a tutti quanti (caramba, um toscano também deve escrever in vero veritas de quando em vez, Não???)
trabalham pela memória colectiva de Arouca.
fui… |
Ivo Brandão, que artigo bonito sobre a festa das colheitas, não poderia de deixar registrado , que tudo que voçe escreveu,deve ser continuado por testemunhos, como este que vou comentar , pois até os meus 16 Anos eu testemunhei , aqui vai , todos os meus colegas da minha idade ficamos á espera da festa , para nos deliciarmos com tudo , era gente que não cabia nas ruas, tanto na central como nas laterais , pois vinha gente de todo o Concelho durante os três dias , nunca esqueço dos negociantes que vinhão com suas mercadorias para vender na feira, que começava cá em baixo perto do Rio e terminava nos passos do concelho,começava com os materiais estendidos no chão , como ferragens , cerâmica tecidos , roupas prontas , brinquedos ,etc aí vinha o mais importante para mim ,pois era muito jovem ,que era o lazer, com os carroceis o Posso da morte as rodas de canivete , que era de um prazer sem par, ganhar um canivete , todo o jovem gostava de ter um e esperava a feira para ver na sorte se ganhava um , nunca esqueço do circo ,e um que esteve na feira talvez seija um dos maiores da Europa pois até hoje existe, é só ver na Internet, o nome era Arriola Paramés, ou seija a feira era um Shopping Center ao ar livre , tinha de tudo , nunca esqueço que as pessoas se preparavam com alguma novidades ou de artesanato ou de curiosidade, para mostrar na exposição da feira que ficava no terceiro andar do convento, como era prazeroso assistir aos ranchos que vinham de todo o concelho , todos erão fantásticos, mas sem duvida o de Moldes e o de fermedo que vinhão no final ,erão demais , e os fogos presos como erão bonitos . Sei que que feira mudou muito , mas nunca perde o encanto , pelo que tenho acompanhado pelo Arouca biz. Armando Pinho