31 de Julho de 2009 – Autarcas e Políticos

camara-municipal-aroucaCavaco Silva terá sido a personalidade política que, no seu tempo de Primeiro-Ministro, melhor encarnou a personagem do tecnocrata. O «divórcio» entre a técnica/tecnologia e a política acontece ou «desacontece» ao sabor das conjunturas e dos ciclos políticos, das tendências de voto, das vontades das massas. Terá começado nessa altura o eterno debate sobre se um bom técnico é um bom político, e se a sua técnica (e, agora na moda, a tecnologia) pode/deve/consegue estar ao serviço de uma boa política. O debate coloca-se, agora cada vez mais, a nível local. Se uma terra precisa de obra, então é lícito que as massas votem num engenheiro. Se uma terra precisa de reequilibrar as suas contas, é lícito que prefiram um economista. Não será cem porcento assim, mas, como nas sondagens e nas eternas conversas/debates de café, sabemos que estes argumentos são esgrimidos.

Nesta altura, o que acontece é outro fenómeno, paralelo a este. Mais do que a eventual tecnocracia, estamos a viver um fenómeno interessante de incremento da participação da dita «sociedade civil» no processo político/eleitoral, chegando, em muitos casos (e Arouca foi exemplo disso, há quatro anos, com a eleição de dois vereadores do movimento independente de cidadãos), a obter assinalável representatividade. A nível nacional, o exemplo de Manuel Alegre é, neste aspecto, paradigmático. É, assim, justo que se ajuste a questão: à semelhança do que se coloca acerca de um bom técnico poder ser um bom político, sobre se um bom político pode ser um bom autarca.

Ser-se autarca, hoje, é mais do que ser-se político. Muito mais. Mesmo que se tente contrariar, cada vez mais a tendência é para que o que é considerado um bom autarca regresse um pouco ao modelo dos primeiros autarcas do pós-25 de Abril (e alguns mesmo do período anterior, como em Arouca tivemos exemplos). Não são poucas as histórias que ouvimos de como, no período imediatamente após as primeiras eleições livres, os autarcas estavam no terreno, a receber ofertas de material e mão-de-obra das populações, e a com elas trabalharem na construção de equipamentos e infra-estruturas. Houve Presidentes e Vereadores que, mais do que envergarem fatos ou viajarem de automóvel, fizeram da pá, da enxada, da picareta, da «colher» do cimento, da sua força de braços em obra a sua principal «arma» política. Hoje, as populações não estão altamente interessadas em debates ideológicos ou políticos sobre temas intelectuais, ou sobre tricas internas, ou sobre questões políticas. Estão, sim, interessadas em encontrar em quem possam confiar o seu futuro.

Por esta altura, e nas próximas horas, e nos próximos dias, as «campanhas» saem à rua. Enquanto cidadão, aquilo que me parece que o povo a que pertenço quer é um período em que impere a seriedade e a elevação, porque se há algo que todos temos em comum é o facto de termos um orgulho muito próprio de sermos arouquenses, e o nosso futuro é muito maior, muito mais importante do que qualquer luta política por si só. Somos herdeiros de um passado nobre, soubemos construir esta Arouca que, com os defeitos que possa ter, duvido que não nos orgulhe. Chegará, portanto, a hora de escolhermos autarcas e não políticos. Sob pena de, depois, não termos aquilo de que, efectivamente, precisamos.

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