Uma das retracções do Primeiro-Ministro após a moção de censura, após os resultados das europeias, foi admitir que deveria ter investido mais na Cultura. Logo o Ministro da Cultura, de resto um homem inteligente e altamente culto, que dá a ideia da mais não fazer por mais não poder, aplaudiu o reconhecimento, e «deixou cair» que é hora de se investir na Cultura, depois do «desenfreamento» com que se investiu na «Educação», na «Ciência» e no «Conhecimento» (leia-se «Novas Oportunidades» e afins). O que acontece é que, pelo menos em relação à Cultura, o investimento feito nesse conhecimento e nessa ciência não se traduziram numa efectiva pedagogia para a Arte. Isso traduz-se numa visão parcelar e, de certa forma, discriminatória da Arte, como algo que não pode (não deve?) ser pago da mesma forma que, por exemplo, uma infra-estrutura ou um equipamento. A Arte, mais do que um «dom», é um trabalho quotidiano, intelectual e físico, persistente e de constante aprimoramento. Se o «mercado» se permite fazer rodar milhões em torno do futebol, para jogadores que treinam diariamente e, mesmo assim, falham golos de baliza aberta, porque não há disponibilidade para se largarem algumas migalhas (1% do PIB, no caso de Portugal, não é nenhuma fortuna) em prol da Arte e da Cultura?