Parto, desde logo, da premissa de que não detemos a verdade toda, mas parece que, neste caso, não será propriamente grave, ao que se lê por aí. O Papa Bento XVI terá afirmado, de uma forma um tanto «enigmática», que o problema da Sida «não se pode resolver com a distribuição de preservativos», e que, «pelo contrário, isso só irá complicar a situação». Mais do que os números, que ajudam, de certa forma, a provar o contrário, sabemos que cerca de 30% das instituições que ajudam no combate à Sida estão, de uma forma ou outra, ligadas à Igreja, e sabemos que fazem distribuição de preservativos sem qualquer reserva.
A questão que se coloca aqui fica entre o que deveria ser e o que tem de ser, face às circunstâncias. Estaríamos numa situação ideal se conseguíssemos fazer retroceder alguns usos e costumes africanos, que contribuem para esta situação, como a iniciação sexual precoce ou a poligamia socialmente aceite e fomentada. Mas a identidade e especificidade local de cada espaço são isso mesmo, e o que para nós pode ser reprovável, ali pode ser perfeitamente aceite, bem como o contrário também, certamente, sucede. «Cada terra com seu uso, cada roca comm seu fuso», diz o povo na sua sabedoria, que reconhecemos. Sucede que a realidade, as circunstâncias não são essas. Há um problema, e temos duas formas de o combater: pensando e estudando, teoricamente, a táctica; ou indo para o terreno «a toda a força», para o combate. O Papa Bento XVI, neste caso, parece ter escolhido a primeira opção, o que me faz concordar com a posição de António Marujo, quando escreve que «uma posição mais positiva e menos interditos poderia ajudar».