Perturbou-me a ideia de se voltar a trazer ao debate a eutanásia. E perturbou-me, porque parece que há outros problemas que merecem prioridade. Talvez a eutanásia seja importante depois de se resolverem os cerca de 20 mil casos de violência doméstica, depois de se resolverem as dificuldades que imensas famílias têm em conseguir o que comer no dia seguinte, depois de se resolverem as dificuldades que muitos portugueses têm em encontrar trabalho digno com salário digno. Aí sim, talvez possamos falar sobre eutanásia com outra propriedade.
Normalmente, estes debates surgem a partir de uma generalização de um caso concreto, com incidências e particularidades muito específicas das circunstâncias e envolventes que tem. Assim foi com Eluana, e logo os fervorosos do costume se apressaram a agitar uma bandeira completamente desproporcionada e descontextualizada, demagógica, até. Para cada história de «desistência» perante as «intermitências da morte», há várias de luta, de esperança, de exemplo, de dignidade, de confronto com cada situação que a morte e a vida vão colocando, passo a passo. E isso, quando 99% dos portugueses desconfia dos políticos, não pode ser nenhum decreto, feito levianamente, por quem está cada vez mais afastado de quem representa, a ditar.