Aviso desde já que vou ser parcial. O Maestro António Sérgio é, para mim, desde a inesquecível aventura no Coro de Câmara de São João da Madeira, uma referência, e, provavelmente, um dos principais responsáveis por eu continuar a tentar ser músico (com m pequeno).
O convite tinha circulado por e-mail, e fomos falando uns com os outros, ávidos de satisfazer a curiosidade de ver um mestre novamente em acção, e logo com um programa tão «exótico». O concerto fluiria aos sons do tango, com tudo o que isso traz de ritmo, paixão e intensidade. A abrir, as «Quatro Estaciones Porteñas», do incontornável Astor Piazzolla, seguindo-se a «Missa Tango», de Luis Bacalov, o conhecido compositor, laureado com um Oscar pela banda sonora original do filme «Il Postino» (O Carteiro de Pablo Neruda). À Orquestra Filarmonia das Beiras associava-se o bandoneón de Fabian Carbone e as magníficas vozes de Patrícia Quinta (soprano) e Bruno Pereira (barítono), bem como o Coro de São Tarcísio e o Coral de Biomédicas Abel Salazar. A Sala Suggia, lotada.
Por mim, continuo a achar que, se algum dia souber dirigir, quero ser parecido com aquele maestro. Seguro, expressivo, fluido. Piazzolla não surpreendeu. Paixão, rasgos de fúria até, mas também sonoridades afáveis e de enlevo. A Missa Tango revelou-se, para mim, uma imensamente grata surpresa. Uma obra belíssima, com momentos intensos, mesmo apaixonantes. Mas o melhor estava reservado para o fim. Depois de tudo isto, Fabian Carbone, com palavras simples, explicou que iria, de seguida, executar «Oblivion», de Astor Piazzola, como «extra-programa». Explicou que a expressão «oblivion» seria o que de mais parecido os argentinos têm com a nossa «saudade», e que o resto se iria naturalmente exprimir através da música. O que se seguiu foi «aquele momento». Aquele segundo em que, depois da música terminar e antes dos aplausos, algo acontece de inexplicável. E isso aconteceu. E fiquei a pensar que talvez seja também pela busca desse momento que continuo, graças ao apoio e amizade de pessoas como este mestre, a teimar em tentar ser músico.