3 de Outubro de 2008 – Abertura da Temporada de Música da Gulbenkian

gustavo-dudamelGustavo Dudamel é um jovem maestro venezuelano que tem dado que falar. Neste momento, é o rosto de um projecto em que a música serve de «pretexto» para retirar crianças e jovens das ruas, dando-lhes formação e «um sentido para a vida», e que tem como um dos seus expoentes máximos a Orquestra Sinfónica Juvenil Simon Bolívar. Mas o verdadeiro expoente máximo deste trabalho é algo que se chama «Sistema Nacional de Orquestas Juveniles e Infantiles de Venezuela: Modelo de escuela de vida social». O nome diz tudo, palavra por palavra: trata-se de um sistema (algo projectado e sistematizado) nacional (em que o Governo da Venezuela está empenhado) de orquestras, em que a música é a base de uma «escola de vida social». Isto, na Venezuela.

Neste momento, a Fundação Calouste Gulbenkian está a trabalhar em parceria com «El Sistema», no sentido de criar também em Portugal um «embrião» deste projecto: a «Orquestra Geração», no Casal da Boba, na Amadora. E foi neste contexto que surgiu a agradável novidade de que Gustavo Dudamel viria a Portugal, dirigir a Orquestra Gulbenkian, no concerto de abertura da Temporada de Música. Uma oportunidade única.

orquestra-gulbenkianDepois dos contactos feitos e do desenho mental da tarefa hercúlea de fazer, no mesmo dia, a viagem Arouca/Aveiro/Lisboa/Arouca, a vontade que chegasse rapidamente ao dia previsto era enorme. Contudo, alguns dias antes do concerto, Dudamel cancela a sua presença, devido a doença, sendo substituído por outro enorme maestro: Bernhard Klee.

Não era Gustavo Dudamel, e só isso era motivo de alguma desilusão, mas a rota manteve-se desenhada, e foi cumprida. A tarde de sol tomou conta da viagem, rumo a sul, até se começar a ver, ao longe, a capital. Depois de atravessado o bulício citadino da Praça de Espanha, uma calma contrastante. Depois de um passeio pela Fundação, chegava a hora.

Bernhard Klee entrava, saudava um auditório quase cheio (às 19 horas, note-se), e dava início ao concerto. Aos bernhard-kleeprimeiros acordes da Sinfonia n.º 41 K 551 (Júpiter), de Mozart, foi como se uma grande nuvem de som pairasse por todo o Auditório 1 da Gulbenkian. Estava mais ou menos explicado por que razão se trata de uma das melhores (senão a melhor) orquestra do país. Mas o melhor estava reservado para a segunda parte. «Ein Heldenleben» (Uma vida de Herói), de Richard Strauss é uma música de outro mundo. A orquestra alargou-se, e Bernhard Klee deu ainda mais mostras de uma direcção expressiva, bastando, muitas vezes, apenas uma expressão facial para mostrar o que pretendia.

Um grande maestro, uma grande orquestra, um grande programa. Ficou (ainda que apenas uma réstea) alguma pena, por não estar ali Gustavo Dudamel. Mas foi, sem dúvida, um concerto brilhante, após o qual se avizinhava uma viagem de regresso. E, ao chegar, o sentimento de que tudo se faz. Mas Lisboa ainda fica um bocadinho longe.

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